Ator Cauã Reymond desabafa sobre HIV da mãe

Ator relembra dificuldades vividas por conta do diagnóstico de HIV da mãe; médico alerta que o estigma ainda persiste e prejudica milhares de pessoas no Brasil


Cauã Reymond - Reprodução Instagram

Cauã Reymond comoveu o público ao compartilhar um relato pessoal e delicado durante sua participação no Altas Horas, exibido no último sábado (24). Em um momento de rara vulnerabilidade, o ator de 45 anos falou sobre o impacto que o diagnóstico de HIV da mãe, Denise Marques, teve em sua infância — marcada por bullying, exclusão e julgamentos cruéis.

“Eu sofri muito bullying, minha mãe era HIV positivo, minha vó adotou minha mãe, era mãe solteira e deficiente física e a minha tia, que também foi adotada também, era esquizofrênica, eu sofria muito bullying na rua, porque meu pai morava em Santa Catarina então não tinha ali uma figurina masculina e eu sei que é difícil quando as pessoas olham para mim hoje, eu tive uma infância, muito, muito difícil, muito rica também, que me ajuda a contar histórias”, revelou Cauã, que atualmente integra o elenco do remake de Vale Tudo.

O desabafo expôs não apenas a dor pessoal do ator, mas também uma ferida social que ainda está longe de cicatrizar: o estigma enfrentado por pessoas que vivem com HIV — e seus familiares. Para compreender melhor a realidade por trás do vírus e os desafios enfrentados por quem convive com ele, a CARAS Brasil ouviu o médico infectologista Dr. Igor Maia Marinho, formado pela Faculdade de Medicina da USP.

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Segundo o especialista, o HIV é o vírus da imunodeficiência humana, que compromete o sistema imunológico ao atacar os linfócitos CD4, células responsáveis por proteger o organismo de infecções. “Com o tempo, se não tratado, o HIV pode enfraquecer tanto a imunidade que surgem doenças oportunistas, caracterizando a fase chamada de AIDS”, explica.

O Dr. Igor destaca que há uma diferença fundamental entre viver com HIV e desenvolver a AIDS, e que muitos pacientes permanecem assintomáticos por longos períodos. “Em pacientes em tratamento adequado ou no início do quadro, podem não haver sintomas. São coisas diferentes.”

Embora a cura definitiva ainda não exista, os avanços na medicina têm transformado radicalmente o prognóstico de quem recebe o diagnóstico. “Pessoas que vivem com HIV, diagnosticadas precocemente e que fazem tratamento adequado, têm uma expectativa de vida praticamente igual à de quem não tem HIV, com ótima qualidade de vida, podendo trabalhar, ter filhos, estudar, praticar esportes e realizar qualquer sonho”, afirma.

Ainda assim, a principal batalha segue sendo contra o preconceito. De acordo com o Índice de Estigma em relação às pessoas vivendo com HIV/AIDS, desenvolvido pelo UNAIDS e PNUD, cerca de 64,1% das pessoas diagnosticadas já sofreram algum tipo de discriminação. Para o infectologista, esse dado revela o quanto o tabu ainda precisa ser enfrentado com informação e empatia.

“O estigma ainda existe de forma muito significativa e traz muito sofrimento para quem vive com o vírus e para seus familiares. Isso vem de uma época em que o HIV era associado à morte e a julgamentos morais, o que não faz nenhum sentido atualmente. Quebrar esse tabu é um dever de todos nós”, pontua.